Minha mente já estava aqui. O grande problema é que meu corpo demorou demais pra chegar. Me segurei, você nunca me viu chorar, não ia ser agora.
Então rapidamente dobrei a parte da camisa manchada com minhas lágrimas. Te ver falando com um tom de voz tão frio foi definitivo pra mim: você estava fingindo. Sabes tão bem que te conheço e ainda dissimulas não me amar. Era lógico que era disfarce, como sempre. Você sempre acha que se esconde de mim, mas a grande realidade é que se esconde de você. E parece mesmo ter medo de tudo e de todos. Você também está ferida, eu sei da sua dor, pois ela sempre foi tão grande que te impediu de chegar até mim. E eu que passei essas noites calculando as dores que você não sentia e os pesadelos que você não teve? Hoje vejo nos seus olhos que sofreu igual a mim. Foram dias e dias me sentindo sozinho em meio a conselhos do tipo "tudo passa" e "você não é o primeiro e não será o ultimo". Mas nem que eu fumasse todos os cigarros do mundo e esvaziasse as prateleiras dos botequins, nada curava aquela ansiedade. E de tanto esperar eu fui te ver. Seus olhos estavam ausentes como nunca. Inevitavelmente acordei. E por um momento vi você voltar, foi por pouco, mas estava tudo igual. Revi a cena e não tinha você. Nem você e nem aquele fingimento de "não amor". Só tinha eu e minha ansiedade.